segunda-feira, 26 de maio de 2008

Se houvesse um depois do adeus

Depois de tudo acabar
Não vai magoar.
Depois, bem depois do tempo presente
Um olhar não virá rostos descontentes,
Virá memória ou esquecimento,
Mas nunca lágrimas num caixão.
De todas as lágrimas que não se perpetuarão
Como rostos pintados a carvão,
Ficará o quê, então?
Não me chores se cumprir meu condão
Só se perder a vida em repetidos movimentos mecanizados
[desencontrados da razão que me diz:
"Depois de tudo acabar, não vai magoar..."
Chora-me se não cumprir meu purgatório
- Meio Céu, meio Inferno -,
Chora-me se nunca cheguei a viver,
Chora-me se vivi num tempo
Em que ser contra - producente
Dá filosofia à Nação.
Chora-me, se chorar-me te vai no coração,
Mas lembra-te que as lágrimas não se vão perpetuar
Senão na nossa recordação.
Chora-me, se sentires que perdeste algo importante para ti,
Palavras que te acariciavam como uma brisa no orvalho,
Paletas de tons quentes no rosto sorridente, satisfeito,
Ausente.
Chora-me!
Se fazer-te chorar faz bem…
Mas não me chores pelo meu sofrimento:
“Depois de tudo acabar, não vai magoar!...”.

(Fevereiro de 2007)

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