segunda-feira, 26 de maio de 2008

Hoje li Cesário, onde não se lê mais Camões.

Hoje li Cesário com quem nunca leu Camões.
Portadores desta língua com quase dois mil anos,
Serão eles os soberanos de programas que letram ninguém.
Faz tua mala e leva tratados de fonologia
Que não contemplam a mitologia
Da lírica de “Alma minha(…)”.
Leva na tua mala recordações de reformas
Que apresam o país a entrar [prematuramente]
Em comboios europeus.
Hoje lemos Cesário, como se nunca tivéssemos lido Camões.
Sem intertextualidade
Só vimos a banalidade a gás dos serões.
Sem reconhecer filhos lançados a tormentas
Ou navegações ancestrais,
Hoje somos os filhos, amanhã seremos os pais.
Faz tuas malas e leva introduções a generativistas,
Ignorando palavras líricas dum dos mais belos classicistas.
Vai! E se levares Camões contigo
- Ou Bocage, Resende ou Dinis –
Será porque és mais que Bolonha,
Redutora e triste,
É porque ainda procuras, sozinho, o melhor do teu país.

(Março de 2007)

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