segunda-feira, 26 de maio de 2008

Musa Varão da minha Nação

Para quê fazer poesia
Se Pessoa disse tudo?
Como ele não se continha no mundo
Pelo menos naquele em que vivia.

Para quê a poesia analisar,
Se perto dela só estamos a mastigar
Ruminado palavras de Graça
Perfeição do Verbo que nos ultrapassa?

Musa da multiplicidade,
Que disse fingindo a verdade
É, mais que mil em um,
Um em mil,
Cabendo nele um lado infantil,
Um frenético e um solene
Fragmentado e perene
Génio de ósculos mil.
Beijando-me os olhos de lágrimas
Imagem triste, efémera, magra,
Lido como colo, pai e mãe,
Obcecado de ser ninguém,
Imagem construída,
Pensada que nunca seria lida,
Foste Musa varão de minha nação.

Para quê dizer se o indizível foi dito?
De tudo feio, de tudo bonito
De tudo possivelmente contido num sujeito
Que transporta a rotina no peito.

O que dizer, então, em versos?
Se até tu Fernando (nome do meu mano!...)
Pensaste que em tudo pensaste
Nesta alheia terra, à beira do mar?...

Ah!...Sobrevivendo a ti mesmo como um fósforo frio...

(19 de Abril de 2007)

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