segunda-feira, 26 de maio de 2008

A liberdade é uma utopia, miragem da modernidade (cf. Mote)

A liberdade é uma utopia, miragem da modernidade.
Contrariamente, meu século suspenso num diploma de tecnologia
Contém, pendido, foral que me atribui liberdade:

Sou livre de partir para lado nenhum,
Casal de Judas que perdeu as botas,
Desde que o faça na fronteira de nossa comunidade;
Sou livre, isenta de dizimo, de pagar à igreja,
Desde que pague vinte um por cento em cada cereja;
Sou livre de não trabalhar,
Desde que não tenha que viver nem minhas contas pagar;
Sou livre!
E no entanto engrilhetada em hipotecas
Aos senhores feudais, banqueiros nostros hermanos.

Sou, como todos, uma moderna medieval,
Mas convencida pela propaganda
De uma emancipação mundial.

Cega, pago mais que meus tetra-pais:
O trabalho, mais precário que o agrário,
É vinculado por tratos semestrais;
Minha casa já não é queimada,
Mas pode ser reclamada por minha entidades feudais;
Impelida pela TV, que selecciona minhas ideias,
Vejo-me entre supremacias raciais,
As novas cruzadas religiosas medievais.

Peço, a um Deus em quem não creio
Salvação dos Sarracenos,
Que, como nós, acreditam no patriarca Abraão,
Mas que de nós diferem por crerem no Corão
E que também tiveram uma Fátima,
Mas a minha, não!

Sou livre de amar!
- Quem tiver dinheiro para ser amado –
Pois ninguém acredita em amor e uma cabana
Se esta não tiver telhado…
Com tanta tecnologia, tanto dinheiro gerado,
Seria de esperar melhorias,
Que pelo menos a fome tivesse acabado.
Que outros despotismos, mais horrivelmente declarados
Fossem primeiramente conhecidos
Seguidamente exterminados

Somos, como todos, modernos medievais
Com uma exploração mais dissimulada,
Mais engrilhetados que nossos tetra-pais.

(27 de Abril de 2007)

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