segunda-feira, 26 de maio de 2008

Amaste Bárbara

Se amaste Bárbara,
Nas ondas do Índico e Atlântico,
Amaste a terra quente
Da gente da nossa gente,
De nossa língua elegante

Se amaste Bárbara,
E teus olhos perdeste
No impenetrável de seu cabelo,
Deste-lhe um filho belo
Irmão de sangue ofegante

Se amaste realmente, alguma vez, Bárbara,
Sentiste que no pulsar de seu corpo
Existe o vermelho da terra,
De todos seus irmãos não amados
Que por sua mãe são chorados,
Os perecidos e os raptados na carga do levante.

Se tu amaste, alguma vez essa negra
De larga coxa e face dura
Felina, disposta a se proteger
Pela cor que não escolheu nascer
Amaste tua terra e legaste a essa fera
Nosso sangue português.

- Bárbara, encolhida no convés,
Perdoa teus captores,
De séculos precursores
De uma imposição moral.
Foram, em nome de Cristo, desumanos,
Juízes de um plano simplesmente medieval.
Perdoa! Por teres sido de tua casa levada
Amarrada e noutra terra plantada
Para dar descendência nacional.
Perdoa, toda a parca moeda de troca
Que te enterrou no trabalho da roça
Para servir amos, vilões e patrões.

Se alguma vez amaste Bárbara
Foste pioneiro de relações
Seguraste teu coração num porto,
Cultivaste frutos no horto
E criaste novas nações.

(Abril de 2007)

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