Se é milagre uma flor crescer
À beira da estrada
Rompendo terra e asfalto
Como que a querer gritar bem alto
“Vida!”,
É milagre, mais que a flor achada,
Teus olhos poder ver,
Castanhos, constantes, calados,
Expressos em rasgos mutantes
De amizade, paixão, amor.
Se há, no arco-íris a única verdade,
Elusiva da expressão da divindade,
Duma refractada luz concretizada,
Há algo nos teu modos,
Perenidade dispersa sinuada
Que me ilude a verdade
E me faz crês
Que todo o amor é puro milagre.
Se só na realidade observável,
Ignorante da cientificidade
Microscópica,
Que nada é uno,
E tudo divisível a uma infinidade,
Se só ela, tão falsa como,
Se parássemos para ver,
Bela, é realmente o que há de verdadeiro,
Não creríamos em nada,
Nem na vida inflamada
De vida,
Ao nascer já perecida,
Como a flor que será eventualmente esmagada.
Mas a verdade é muito mais,
Mais que simplicidades rurais,
É aquilo que o homem pensa, o que existe e ele cria;
É Deus na forma humana,
Ex-nihil inventor
De outros seres, de felicidade ou dor,
De palavras,
- ah… e todas as palavras são verdade
Beleza pura num estado primeiramente
Inusitado –
E acima de tudo do amor,
Dos modos tão ardilosos
Desses olhos, castanhos, profundos.
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