sábado, 24 de maio de 2008

Flore(s)


Se pudesse o tempo parar, suspenso na beleza das palavras,

Teria, na verdade falsidade, e ignoraria, à flor, seu murchar.

Se sentisse ainda o perfume, de outrora, da flor apanhada,

Que bom, em seu aroma mareada, recordando campos afora:

Veria mãos, chupando azedas entre searas,

Por entre risos e brincadeiras,

Rolando grãos translúcidos, sentada nas eiras,

De menina de perna ao léu, choradas.

Veria, nas brincadeiras descuidas, papoilas bailarinas;

E do mais bem-me-quer, uma ausência do nada.

Gritaria de felicidade a cada efémera violeta encontrada,

Compilaria compenetrada o mais belo bouquet de flores.

Oh, saudades de tempo em que fechava os olhos para sentir o perfume…

Que hoje vivo na cidade, sem meus brincos de princesa.

Tenho flores, mas sinto-me presa, a metafísicas de cientificidade,

Que me dão, no pensar, pequeneza e me trazem grande tristeza

Pela perda da inocência de mocidade.

Por isso

Dá-me rosas, rosas, e lírios também,

Que o Álvaro, Reis e Caeiro, esses, que nem existem,

Rogaram doutrinas e para mim foram alguém.

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