Quando te escondias do sol
Procuravas na noite as nuances das cores
Invisíveis sem o espectro de Apolo.
Querias, como se banhos de luar te bronzeassem,
Ver aquilo que durante anos não pudeste sequer aproximar.
Querias a descoberta das brincadeiras de criança,
Onde brincavas às escondidas em plena vista,
Como que, sendo crescida, tivesses o direito de ser criança.
Era no silêncio,
No macabro silêncio que nos sobressalta à mais mínima agitação,
Que procuravas tuas resposta,
Num tom de desafio à sabedoria da noite.
Foi nesse fundo poço de Selene
Que viste,
Pouco mais que nada à frente do nariz,
Numa rotina tediosa,
Excitante apenas a aqueles que nunca anestesiaram os sentidos.
Quando quiseste, um dia, acordar mais cedo,
Viste que era tarde.
Pensaste: “Amanhã! Amanhã verei a luz do dia!”
Mas nunca mais conseguiste acordar a horas de ver o mundo,
Em sua plena palete de cores, sem ficares enjoado.
É o enjoo da Lua que perdura no teu pensar.
Hoje, Apolo fere-te a vista em castigo divino.
Cada hora do dia, que outra hora servia para dormires,
Contribui para o enjoo que não passa.
Um dia, será na noite que te sentirás mal.
Mas até lá, preambula junto dos outros mortais,
Nesse frenesim matutino que te impele a pensar
Que és uma ave de rapina nocturna
Sobrevoando a cidade subterrada por nevoeiro,
Procurando um lugar para poisar.
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