sábado, 24 de maio de 2008

Entre Selene e Apolo


Quando te escondias do sol

Procuravas na noite as nuances das cores

Invisíveis sem o espectro de Apolo.

Querias, como se banhos de luar te bronzeassem,

Ver aquilo que durante anos não pudeste sequer aproximar.

Querias a descoberta das brincadeiras de criança,

Onde brincavas às escondidas em plena vista,

Como que, sendo crescida, tivesses o direito de ser criança.

Era no silêncio,

No macabro silêncio que nos sobressalta à mais mínima agitação,

Que procuravas tuas resposta,

Num tom de desafio à sabedoria da noite.

Foi nesse fundo poço de Selene

Que viste,

Pouco mais que nada à frente do nariz,

Numa rotina tediosa,

Excitante apenas a aqueles que nunca anestesiaram os sentidos.

Quando quiseste, um dia, acordar mais cedo,

Viste que era tarde.

Pensaste: “Amanhã! Amanhã verei a luz do dia!”

Mas nunca mais conseguiste acordar a horas de ver o mundo,

Em sua plena palete de cores, sem ficares enjoado.

É o enjoo da Lua que perdura no teu pensar.

Hoje, Apolo fere-te a vista em castigo divino.

Cada hora do dia, que outra hora servia para dormires,

Contribui para o enjoo que não passa.

Um dia, será na noite que te sentirás mal.

Mas até lá, preambula junto dos outros mortais,

Nesse frenesim matutino que te impele a pensar

Que és uma ave de rapina nocturna

Sobrevoando a cidade subterrada por nevoeiro,

Procurando um lugar para poisar.

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