Aware that all that glitter is not gold From the time I laid mine eyes upon thee Proudly I were my art upon a sleeve Sung it to all four corners of the world
Dus harm my 'art as fire the household my be-all and end-all you were to be a son, my flesh and blood, would make us three And the wedding day from that moment sold
Pomp and circumstance wouldn't justice you For as long as sun lights up a day Pale is all beauty and wise is a fool
That kneels and bows in earnest gratitude For all the kindness directed his way, Saved shipwreck, weeping rain of morning dew.
No meu jardim existem rosas, Que me parecem mais memórias de outrora Em que lágrimas maternais regavam a terra fúnebre que as acolhia. Foi do desejo que cresciam dessas mãos, de se enterrarem, Elas próprias, o corpo todo mergulharem pouco a pouco na escuridão e no encontro da morte. Dessa vontade, ainda existem lágrimas para as regar e ainda existe amor para as cuidar... E por vezes ainda vejo a vontade de voltar a cobrir tudo de terra, de escavar nela, À procura de um amor perdido, Na terra perecido... Ah! Amor de mãe...
(Dedicado aos anos de sofrimento da minha mãe, que ela nunca tivesse passado por eles)
Do teu útero Podias governar o mundo E no entanto não mandas Em ninguém nem em nenhuma nação. Do teu corpo Podiam catederilizar o mundo Mas teu templo É herança de Da Vinci, Miguel Ângelo, E alguns neo-realistas também. Dos teus lábios Podes missionar o mundo Contudo tuas mansas palavras Caem sob ouvidos ateus Adoradores de outras divindades. Dos teus braços Podem agradecer a Terra, Porém a verdade dura, séria, É que são esses homens a colher O fruto do cultivo do teu chão.
Mulher, ainda apedrejada, De rosto tapada, Não mentes com o olhar: És Deusa esquecida, Das tablas do tempo, Riscaram por cima de teu nome outro alguém - Não mulher – Para que possam-te minimizar. Mas no teu gesto de Sabá sabes Que podes governar Catedrelizar Missionar Esse mundo Que só a ti podemos agradecer.
Grito no meu peito a minha voz de solidão Aquela que não falo no dia a dia A que se esconde censurando a sociedade A que não se levanta perante a injustiça Mas que grita por dentro com vontade
A que cerra os punhos de raiva E morde, num soluço, palavras prestes a se libertar A voz que anseia um dia soltar Melodias que inventa, mas que não possui na garganta
Grito, num silêncio que quase rebenta nos olhos: Parem! E o mundo gira à minha volta, em guerras e fomes, Em escravidão mecanizada ainda do último século Sem direito a upgrades da globalização. E chora quando vê estátuas a serem derrubadas Como se a libertação de um povo valesse todas as mortes das crianças. E chora quando vê museus do berço do mundo a serem espoliados E chora, num grito abafado, a reeleição de um inegrumeno.
O grito do meu peito, soa abafado. É uma voz que não se ouve, como tantas ao meu lado.
Depois de tudo acabar Não vai magoar. Depois, bem depois do tempo presente Um olhar não virá rostos descontentes, Virá memória ou esquecimento, Mas nunca lágrimas num caixão. De todas as lágrimas que não se perpetuarão Como rostos pintados a carvão, Ficará o quê, então? Não me chores se cumprir meu condão Só se perder a vida em repetidos movimentos mecanizados [desencontrados da razão que me diz: "Depois de tudo acabar, não vai magoar..." Chora-me se não cumprir meu purgatório - Meio Céu, meio Inferno -, Chora-me se nunca cheguei a viver, Chora-me se vivi num tempo Em que ser contra - producente Dá filosofia à Nação. Chora-me, se chorar-me te vai no coração, Mas lembra-te que as lágrimas não se vão perpetuar Senão na nossa recordação. Chora-me, se sentires que perdeste algo importante para ti, Palavras que te acariciavam como uma brisa no orvalho, Paletas de tons quentes no rosto sorridente, satisfeito, Ausente. Chora-me! Se fazer-te chorar faz bem… Mas não me chores pelo meu sofrimento: “Depois de tudo acabar, não vai magoar!...”.
Quero-te, amor, Paixão à primeira vista. Linda, imponente, Numa tarde primaveril. Quero-te! Onde jovens Dionísios, Desfrutam a alegria de te ver. Onde teu branco marmóreo brilha Num deleite de toque divino. Deus esculpiu-te num rasgo de genialidade. Arrancada de ruas de tijolo ancestral. És musa do aqui serei feliz, Maria - rapaz de doçuras neptúnicas, Que pedem beijos, carícias e desejos, Vontade de voltar. Perderia a eternidade só a, Em ti, paixão, Meu olhar mergulhar, Doce, no azul de teu mar.
Hoje li Cesário com quem nunca leu Camões. Portadores desta língua com quase dois mil anos, Serão eles os soberanos de programas que letram ninguém. Faz tua mala e leva tratados de fonologia Que não contemplam a mitologia Da lírica de “Alma minha(…)”. Leva na tua mala recordações de reformas Que apresam o país a entrar [prematuramente] Em comboios europeus. Hoje lemos Cesário, como se nunca tivéssemos lido Camões. Sem intertextualidade Só vimos a banalidade a gás dos serões. Sem reconhecer filhos lançados a tormentas Ou navegações ancestrais, Hoje somos os filhos, amanhã seremos os pais. Faz tuas malas e leva introduções a generativistas, Ignorando palavras líricas dum dos mais belos classicistas. Vai! E se levares Camões contigo - Ou Bocage, Resende ou Dinis – Será porque és mais que Bolonha, Redutora e triste, É porque ainda procuras, sozinho, o melhor do teu país.
Dormência do corpo. Cabeça encostada num ombro amigo, De um companheiro, Também ele adormecido. Olhar de adoração. Enquanto os dedos tacteiam os cabelos, Fios delicados, multiplicados E unos em madeixas que passam pela mão, És, enquanto dormes, mais meigo, Idealização de Eros nascido. És como Cristo menino, Inocente, incandescente, perfeito. O roçar da pele estremece-te e paro! - Quieta, não te quero acordar – Prolongo em desejo um olhar que sustenho na respiração… Finjo que durmo também e inalo - Pouco a pouco – O ar Que retêm o aroma do teu cabelo, Sansão do meu templo.
Ishmael, son of Abraham: Repent thy hand raise to thy brother So that he may lower his own towards you, And hostile siblings live as one in the same one world.
Be sure God will see Thy merciful heart as his own; A heart where paradise welcomes with a harm embrace All those who serves, loves and plant seeds of long lasting peace.
The household still waits for you Son, father, brother, love, seeds of my pride. Lineage of the one, the mighty Adam and Eve, the fallen angels and, The creator of everyone, called by many name, knowed to you as Allah.
Come Ishmael! Let me welcome thy sore feet. Aged skin: tell me, how many years did you spend in the desert Hearing bliss words told, of the land to come. As bend to the ground, thy knees show just love, no pride
Be sure, Ishmael, father of twelve, Thy loyalty does not measure by bloodshed: No family or ram. He only is pleased about how his word is spread, And how those thankful hearts will, the true word, receive.
Come! Abraham waits for you, delfin! Son of freed slave: Heaven does not wait for war in holly name.
Se amaste Bárbara, Nas ondas do Índico e Atlântico, Amaste a terra quente Da gente da nossa gente, De nossa língua elegante
Se amaste Bárbara, E teus olhos perdeste No impenetrável de seu cabelo, Deste-lhe um filho belo Irmão de sangue ofegante
Se amaste realmente, alguma vez, Bárbara, Sentiste que no pulsar de seu corpo Existe o vermelho da terra, De todos seus irmãos não amados Que por sua mãe são chorados, Os perecidos e os raptados na carga do levante.
Se tu amaste, alguma vez essa negra De larga coxa e face dura Felina, disposta a se proteger Pela cor que não escolheu nascer Amaste tua terra e legaste a essa fera Nosso sangue português.
- Bárbara, encolhida no convés, Perdoa teus captores, De séculos precursores De uma imposição moral. Foram, em nome de Cristo, desumanos, Juízes de um plano simplesmente medieval. Perdoa! Por teres sido de tua casa levada Amarrada e noutra terra plantada Para dar descendência nacional. Perdoa, toda a parca moeda de troca Que te enterrou no trabalho da roça Para servir amos, vilões e patrões.
Se alguma vez amaste Bárbara Foste pioneiro de relações Seguraste teu coração num porto, Cultivaste frutos no horto E criaste novas nações.
Para quê fazer poesia Se Pessoa disse tudo? Como ele não se continha no mundo Pelo menos naquele em que vivia.
Para quê a poesia analisar, Se perto dela só estamos a mastigar Ruminado palavras de Graça Perfeição do Verbo que nos ultrapassa?
Musa da multiplicidade, Que disse fingindo a verdade É, mais que mil em um, Um em mil, Cabendo nele um lado infantil, Um frenético e um solene Fragmentado e perene Génio de ósculos mil. Beijando-me os olhos de lágrimas Imagem triste, efémera, magra, Lido como colo, pai e mãe, Obcecado de ser ninguém, Imagem construída, Pensada que nunca seria lida, Foste Musa varão de minha nação.
Para quê dizer se o indizível foi dito? De tudo feio, de tudo bonito De tudo possivelmente contido num sujeito Que transporta a rotina no peito.
O que dizer, então, em versos? Se até tu Fernando (nome do meu mano!...) Pensaste que em tudo pensaste Nesta alheia terra, à beira do mar?...
Ah!...Sobrevivendo a ti mesmo como um fósforo frio...
Contemplo minha juventude Nos vários fragmentos de espelho Estilhaçados no chão, Agora, mil cacos que se apresentam, E variam em forma, tonalidade e estação.
Foi a fúria, aquela ânsia do querer não perder Um único momento, tardio, A violência de festejar o meu luto A minha luta de reivindicar Tudo pelos outros…
Nunca tive uma causa! Minha causa foi sempre a de outrem, Foi sempre pensada num bem Maior, altruísta.
E num período egoísta me deixei Letárgica, acomodar, Sem prazo de mim.
Perdi meu tempo, Perdi tanto…
(Setembro 2005: é sempre giro encontrar poemas perdidos no fundo da gaveta... hoje não teria escrito isto, pelo menos assim, desta forma.)
A liberdade é uma utopia, miragem da modernidade. Contrariamente, meu século suspenso num diploma de tecnologia Contém, pendido, foral que me atribui liberdade:
Sou livre de partir para lado nenhum, Casal de Judas que perdeu as botas, Desde que o faça na fronteira de nossa comunidade; Sou livre, isenta de dizimo, de pagar à igreja, Desde que pague vinte um por cento em cada cereja; Sou livre de não trabalhar, Desde que não tenha que viver nem minhas contas pagar; Sou livre! E no entanto engrilhetada em hipotecas Aos senhores feudais, banqueiros nostros hermanos.
Sou, como todos, uma moderna medieval, Mas convencida pela propaganda De uma emancipação mundial.
Cega, pago mais que meus tetra-pais: O trabalho, mais precário que o agrário, É vinculado por tratos semestrais; Minha casa já não é queimada, Mas pode ser reclamada por minha entidades feudais; Impelida pela TV, que selecciona minhas ideias, Vejo-me entre supremacias raciais, As novas cruzadas religiosas medievais.
Peço, a um Deus em quem não creio Salvação dos Sarracenos, Que, como nós, acreditam no patriarca Abraão, Mas que de nós diferem por crerem no Corão E que também tiveram uma Fátima, Mas a minha, não!
Sou livre de amar! - Quem tiver dinheiro para ser amado – Pois ninguém acredita em amor e uma cabana Se esta não tiver telhado… Com tanta tecnologia, tanto dinheiro gerado, Seria de esperar melhorias, Que pelo menos a fome tivesse acabado. Que outros despotismos, mais horrivelmente declarados Fossem primeiramente conhecidos Seguidamente exterminados
Somos, como todos, modernos medievais Com uma exploração mais dissimulada, Mais engrilhetados que nossos tetra-pais.
Minha mãe: Quando eu morrer Tuas lágrimas não quero ver.
Levo minha saudade, Como meu coração Entregue a ti, entre resquícios de colo de infância. Levo a mesma alegria com que te sorri um dia pela primeira vez Sabendo que aquela magia Repetir-se-à em parceria, No aqui, no além, no talvez.
Levo memórias Não só da dor De te ver sofrer, Também daquele dia Em que doente Jazia pálida a teus pés: Foste tu, mãe, mão amiga Que me consolaste quando doía; Quando desfalecia desbotada de minha tez.
Levo reconhecimento, Da valorosidade do teu sacrifício Entre beijos de amor, Mil, dez mil, um milhão, Um infinito turbilhão de amor Genuíno Que só uma mãe pode ter.
Não me deixes ver-te sofrer, Mãe! Só saudades quero levar! Doce… Passagem… Só saudades quero levar Daqui para qualquer lugar.
Vem devagar, devagarinho, Latejando, primeiro baixinho, Sorrateira, de pianinho Cefalagia de acordar matutino. É tão danosa e tão intensa, Que dói até quando uma pessoa pensa Que este paroxismo na cabeça, Apenas cansaço representa. E é com a luz, tímida ou radial, Que se assume como monumental, Besta pulsátil crónico-fatal, Que esmaga como clava a temporã lateral. E sinto-me viva de morrer, Meu sangue pulsa, sinto-o escorrer, Para a veia, cheia, que tento prender Com medicinas instintivo-tradicionais. Ahhh, devoradora de cérebros, Inibidora de intelectos, Que me roubas o prazer da música e outros deleites predilectos; Ohh, fatais genes, Ohh, hereditariedade maligna Só me trazes enxaquecas e penas de linhagem fidedigna.
Saudades de Portugal, Saudades da brisa, do mar, do sol, Saudades de quem não viveu cá Maus ministros, chuva ou o mundial. Saudades de quem vive longe Na quimera de D. Sebastião De quem não conhece o Tâmega E nunca viu o Almorol. Saudades de uma idealização De nenhuma dificuldade concreta, De quem vê na beleza da Costa Sua paisagem predilecta. Saudades, tanto assim, Soletrada em Português, Pois mesmo o filho do emigrante, Não esquece esta terra de vez. Saudade de todo o p,t,k Que não é ouvido lá fora, São saudades de férias passadas, Desiguais às de quem cá mora.
Cá as saudades são outras, Sentidas de outra maneira. São saudades de ter tempo De passear por esta terra inteira.
(Este poema foi escrito com a minha amiga Guida em ideia. Também dela tenho saudades)
Quero, na privação do sono, Contar-te todos os bocadinhos que de mim perdeste Toda a falta que fizeste Na ausência em que permaneceste.
Quero, em rima corrida, Partilhar a dor em mim contida Explicar-te o b-a ba dos meus passos A minha outra vida Meus pecadores compassos Que vivi Sem ti.
Contar-te, numa condensação de tempo As longas horas passadas ao relento Dos passos agora repetidos Algumas vezes cantados, Muitas vezes, no rosto molhados.
Agora, Que o pai tempo voltou a nos reunir Quero em fragmentos ver-te rir Menina da minha infância Bem-vinda de novo ao teu lar, Domicílio de lembrança.
As-Salamu Alaykum O homem barbado dirigiu-se aos altos emissariados. Mahmoud Ahmadinejad, homem franzino, reservado, Acusado anteriormente de ao malfadado eixo pertencer. “Venho por este meio dizer…” e chocou na televisão.
Por um lado, disse, com razão, que o mundo não pertencia a ninguém. Esses arrogantes não vem só do Islão, e até hoje, Ameaçaram potências, Realizaram prepotências, Sobre países em nome de tudo, menos da razão. Sem ninguém nomear, o presidente fez continuar sua linha de pensamento. - E não eram poucas as cabeças a acenar, quer em desagrado, quer em consentimento – Que o enriquecimento nuclear, era tão valido ali, como noutro qualquer lugar, Evoluído, E que ele próprio, se comprometia, aquele serviço ensinar, A qualquer nação que o pretendesse tomar. "Some big powers create a monopoly over science and prevent other nations in achieving scientific development as well. This, too, is one of the surprises of our time.”. Por outro lado, toldado pelos ensinamentos que fundam sua cultura, Negou descriminações ou a tortura, De outros diferentes de si. Estabeleceu o meu-teu Cortando os mares, tal Moisés, Dos iluminados e dos que se afastam dos divinos profetas. De um lado, uma nação, que estravaza sua própria, a do Islão, Do outro, o dos condenados, Em linha aberta, em todos os noticiários. Somos muçulmanos, não somos coitados. Queremos nossos direitos preservados. Salaam. Essa era a palavra que devia ir de boca em boca. Mas não em Hebraico, pelo menos na Palestina, Que se quer muçulmana e felina. Salaam. Consequências de sessenta e dois anos de luto, Que migraram sobreviventes de holocaustos para outros portos. Mas que tem isso a ver connosco? Salaam, Pelo menos em papel, Em acórdãos impostos a ferro e a fel. “The Iraqi dictator had been supported by the same occupiers was disposed of, and no weapons of mass destruction were discovered, but the occupation continues under different excuses.”. Somos acusados, mas homens honrados Esse assunto deixou de ter discussão. E o 11 de Setembro é outra história, Que ficará, com outra memória que esconde, Como antes, uma nação, Lá longe, Aliada contra outros inimigos de então, Foi abandonada, depois de armada, - Como nós, os portugueses, Abandonamos os países com a nossa expressão. - …Wa `alaykum as-salām.
Salaam (parte III)
Este vídeo não é da minha autoria, mas conclui o raciocínio inspirador deste ciclo
Salaam! Líderes engravatados congratulam convidados em jantares de beneficência. Salaam! Grande concílio na praça de São Pedro promove a reunião de multidões. Salaam! Milhões de assinaturas caem em e-mail’s rotos de intenção. Salaam!
Salaam!
SALAAM!
Noutro espaço do mundo, Uma mãe sufoca seu recém-nascido, Para que não seja ouvido pelo general da guerra Que, com um sorriso sádico, Esventra uma outra com seu filho caído a seu lado; Um fortuito gaiato, Esgueira-se por entre corpos Experimentando botas Para sua longa caminhada de refugiado (Isto se conseguir fugir para algum lado);
Salaam! Choram as crianças babadas no ranho de um choro descontrolado. Salaam! Gotículas deixam um rasto branco em faces negras de desgosto. Salaam! Os pés! Onde estará o pé com que momentos antes pontapeava o esférico no muro derrubado? Salaam! Mães rasgam seu próprio vestido em dor. Salaam! Homens desgastados pela idade transportam nos braços o corpo inerte dum jovem. Salaam! Meninos de turbante aprendem a desmontar Avtomat Kalashnikov’s Salaam!
Entrar no mundo fantasioso de uma criança É como ter a cega esperança de realeza Nos bairros de maior tristeza social Pensando palácios de rotos e corte de nus.
***
Catarina, criança pequenina, Agitada na euforia de companhia amiga Apresentava, tal maga, com sua varinha Espectáculos de espantar.
Com uma seriedade, Que lhe mentia a idade, Avisava senhoras e senhores Com honras e louvores Magias, feitiços, e esoterismos esquisitos Que pretendia realizar
Com palavras só suas conhecidas Soltava: Uaba-Uaba-Uaba (parente próximo de abracadabra) Desapareça a minha casa! E apontava para a casinha de brincar. Ela, pela nossa mentira esperava, E no esvaecimento confiava que nós pudéssemos ver.
A onde é que enfiaste a casa, Catarina, Aquela mais baixinha, em que os pinypons costumas meter? Ainda agora a fitava, e estou perplexa e pasmada Por a ter visto sumir…
Ela, com a estrelar varinha de magia, Segura em seus dedos que agora se cruzavam Por detrás das costas Balouçava Orgulhosa De seu feito vaidosa: Fi-la desaparecer!
Vamos procura-la! Oh casa! Cá-sa! E revirávamos bancos ignorando O brinquedo voluntariamente esquecido, Para brincar deste imaginar, Até que ela, Em sorrisos engasgados, Revolvia seu segredo revelar.
E mostrava-nos a feitiçaria, A casa, psedomente escondida dentro Do espaço interior estrelar. Como é que meteste aqui tua casinha, Que está agora Não pequena, mínima, Dentro da vara que estavas a agitar? É magia! (lá respondia – sorria) Magia de menina, maga, Senhora do inventar.
E lá se repetia de seguida Uaba-Uaba-Uaba (parente próximo de abracadabra) Reapareça a minha casa! E apontava para a casinha de brincar. Ela, pela nossa fantasia esperava, E no fingimento confiava que nós Na cega esperança de realeza Pudéssemos ver na sua magia beleza, E na felicidade plena, o simples brincar de acreditar.
Hoje é um dia de Luto: Morreu Benazir Bhutto Parte da nação regozijou-se, outra chorou, Da morte, o absoluto Imutável, incompreensível do acto de suicídio mútuo. Ela foi vanguarda; Ela foi difamada; Ela foi ao dólar educada, e ao Tio Sam, infelizmente, associada; Ela foi teimosamente suicida Voltando às raízes do ventre da terra de onde foi extraída; No seu âmago o desfecho conhecia Antes mártir que foragida, Arcanjo da hierarquia caída; Exemplo de estúpida obstinação Ela é, ambivalentemente, Coragem, víctima e Islão; É o luto ocidental, Do imaginário romântico-medi; Sherazade sob um véu não virginal, É o ponto de viragem do poder matriarcal. País que chora a perda da mãe, Que move, até, os corações em Portugal: Hoje o Islão cai em orfandade Enquanto irmãos se agridem em rivalidade Uns disparam tiros de felicidade, Outros perdem parte da identidade Ao verem os adventos da democracia Eliminados em tragédia e crueldade. Dizem-na, os que festejam, corrupta; Os que contra seu próprio peito batem, um exemplo de verdade. Eu vejo, nas suas preces, um desejo de paz e igualdade. Queira Allah a receber no seio do pai Abraão Hoje é dia de luto: Chora o Mundo e o Paquistão.
Venho aqui partilhar um pouco da sabedoria da cultura popular. Tenho pena de nunca ter decorado as intermináveis lenga-lengas que minha avó me contou, dias antes de morrer. Como prenuncio do fim, agouro da morte. Mas pequenas coisas retive, dos anos de convivência. Aqui ficam retalhos de anatomia:
Sinal da cara, mulher de farra; Sinal na perna, mulher de taberna; Sinal no peito, mulher de respeito; Sinal no braço, mulher de desembaraço; Sinal na mão, mulher de coração; Sinal no pé, mulher de banzé...
Oh, quem me dera ter um spam de memória maior que o de um peixe, e trazer à memória todas aquelas delícias de menina...
Em conversa com a minha mãe, ela soltou, como que um suspiro, a seguinte lenga-lenga:
"Ai! Dias de Maio, dias de amargura; ainda agora levantou-se o sol, já se pôs a noite escura..."
Ora esta ideia é um pouco contrária à realidade. No mês de Maio, em Portugal, o sol põe-se até bastante tarde. Então qual a razão deste "ditado"?
Pois, bem, antes que se perca a memória aqui fica o registo: à muito tempo atrás, antes das comunicações electrónicas e móveis, as mulheres eram forçadas a fazer parte das lides fora de casa. Como ir à fonte buscar a água. Ora como um dos poucos entretens que tinham seriam talvez uns dois dedos de conversa, quando encontravam uma comadre lá se punham na codrilhice. E assim passava o tempo sem que se dessem conta. Daí o ditado, referindo-se ao rápido passar do tempo quando uma pessoa se distraí. Curioso, não?
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"Comparas-te a um dia de Verão? Tu és mais formoso e mais ameno: Ventoso o mês de Maio e não sereno E o Estio é de curta duração. Ora quente demais o sol fulgura, Ora lhe escurece a tez dourada, Quem é formosa perde a formosura, Pelo destino ou natura despojada. Mas teu eterno Verão não perde o brilho, Nem perde a beleza que é só tua; Da morte nunca seguirás o trilho - Teu ser meu verso eterno perpétua: Enquanto olhos houver que possam ler Este soneto te fará viver."
William Shakespeare: "Soneto XVIII" (trad. António Simões)